quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Cece discute educação em escolas especiais e inclusão escolar

A Comissão de Educação, Cultura, Esporte e Juventude (Cece) da Câmara Municipal de Porto Alegre promoveu, na noite de quarta-feira (22/10), mais um encontro do ciclo de debates Desafios do Processo de Inclusão Escolar, desta vez com foco na discussão sobre as escolas especiais.

Coordenado pela presidente da Cece, vereadora Sofia Cavedon (PT), o evento reuniu representantes da Secretaria Municipal da Educação (Smed), diretores, professores, funcionários e alunos das escolas especiais. O ciclo terá ainda mais dois encontros, nos dias 12 de novembro e 17 de dezembro.

A professora e pedagoga Patrícia Zilmer fez uma breve apresentação das quatro escolas especiais do município: Eliseu Paglioli, Lígia Averbuck, Tristão Sucupira Vianna e Lucena Borges. “Foram criadas no final da década de 80 para atender alunos que estavam em classes especiais na rede regular ou crianças e adolescentes fora da rede de ensino”, explicou, acrescentando que os alunos têm entre 0 e 21 anos.

Destacando o trabalho realizado em parceria com as famílias, Patrícia disse que as escolas especiais buscam parcerias dos mais diferentes locais da cidade. "Este trabalho sustenta a inclusão e permanência dos alunos nas escolas, e os diferentes olhares são indispensáveis."

Patrícia informou que são realizadas diversas atividades extra-curriculares nas escolas, como visitações a museus, teatros, shows e viagens. “Buscamos desenvolver aprendizado sobre o mundo e a participação dos alunos na sociedade. Nossas escolas têm as portas abertas, e nossos alunos vão para além delas.”

Sobre a inclusão de alunos com necessidades especiais em escolas regulares, Patrícia ponderou: “Podemos relatar inúmeras experiências, algumas com êxito, outras desastrosas. Mas a inclusão tem seu lugar na família, na sociedade e, apesar da inegável importância da escola nesse processo, ela não é a única responsável pela inclusão”.

A professora salientou que as escolas especiais acompanham regularmente as discussões da rede municipal de ensino. “As quatro escolas possuem projetos político-pedagógicos, regimento escolar, diretores eleitos, conselho escolar e gerenciamento financeiro. Definem-se como integrantes do sistema educacional.”

Jorge Brasil, pai de aluno da Escola Especial Lygia Averbuck, destacou ser um privilegiado por ter seu filho na Escola Especial, enquanto mais de 1500 crianças aguardam na lista de espera das quatro escolas municipais que atendem as crianças com deficiência. Ele destacou que as escolas ditas normais não estão preparadas, nem os profissionais nem com equipamentos, para atender essa demanda. “Não são apenas rampas e sinalização que transformarão essas instituições em adaptadas para receber crianças deficientes”.

Ele lembrou que o mundo real dos pais, mães e das próprias crianças não é glamour das novelas. “Somos pobres, trabalhadores assalariados, e sobrevivemos com muitas necessidades e quando um filho nosso diz pela primeira vez, pai, isso é uma grande vitória!” Jorge Brasil pediu o apoio de toda a sociedade para que não fechem as escolas especiais de Porto Alegre. “Vamos fazer um esforço e sensibilizar o Mec para que reveja a sua proposta”, concluiu.

Escola Bilíngüe
Júlia Leiz Barreto e Ana Luiza Caldas, professoras da Escola Municipal de Ensino Fundamental de Surdos Bilíngüe Salomão Watnick, também relataram suas experiências. Segundo Júlia, a escola foi fundada em dezembro de 2007 e em março de 2008, criada através do decreto 15.879, teve iniciadas as aulas do primeiro grupo. Hoje, com sede no bairro Rio Branco, atende duas turmas do primeiro ciclo.

Ana Luiza, que também é professora no Centro Municipal de Educação de Trabalhadores (CMET) Paulo Freire, é deficiente auditiva e, através da linguagem de sinais (Libras), lembrou de sua infância. “Os professores não conheciam nada sobre os surdos. Eu ficava preocupada em aprender, mas as pessoas não estavam preocupadas comigo.”

Para Ana Luiza, a identidade surda se constrói através de um sistema lingüístico. "A língua dos sinais é regulamentada através de lei, tem sua gramática, sua semântica, todos os componentes de uma língua. Ensiná-la significa estar de acordo com a construção lógica do pensamento”, defendeu, comemorando que seus alunos pequenos já tenham uma certa fluência na língua. Ana Luiza defendeu a importância de que os surdos tenham o seu espaço. “O surdo não é igual ao ouvinte. Se houver inclusão, os professores que não têm a informação não saberão como lidar com os surdos”.

Escolas especiais
A psicopedagoga Neusa Hickel fez uma reflexão sobre as escolas para alunos com necessidades especiais. "Por que ainda queremos que esta escola continue sendo especial? Que especial é esse? Que espaço queremos preservar? Que coisas novas têm aparecido nesse tipo de trabalho?", questionou. "Não estou dizendo que temos que mudar a denominação, mas temos que pensar na denominação. Se olhamos para a história, especial não é escola, não é lugar de ensinar", completou Neusa, avaliando que quando as escolas especiais se colocam como espaço de aprendizagem, "estão, de certa maneira, abdicando do especial".

Para a psicopedagoga, que é também professora do Centro Universitário Ritter dos Reis (Uniritter), a inclusão nas escolas especiais se dá através da mistura de universos que não se relacionam diretamente com o especial. "A experiência mais impactante é aquela de escolas especiais que abrem suas portas para a comunidade. O miolo da inclusão está nas relações", observou.

Fonte: Taidje Gut (reg. prof. 13614)/CMPA

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