segunda-feira, 8 de março de 2010

O drama dos camelôs

Um ano de experiência e a constatação: o camelódromo não é sustentável. Não no modelo em execução: uma concessão de área pública central e nobre, que implicou em milhões de reais de investimento a serem recuperados através dos aluguéis das lojas aos comerciantes populares, antes camelôs.

Ora, é isto que são: comerciantes populares. Lidam com mercadorias simples e de baixo preço, com pequena margem de lucro, dependendo da quantidade de vendas. Estas características funcionavam na rua, onde grande número de transeuntes “topavam” com os camelôs e adquiriam por impulso, por lembrar de uma necessidade, por preço, pela ocasião.

Esta condição terminou. Hoje as pessoas tem que procurar o camelódromo, subir escadas ou elevadores e ter a persistência, tempo e objetivo para percorrer os longos corredores e favorecer os antigos camelôs, escolhendo-os para adquirir produtos. Resultado: uma brutal redução do público que viabilizava as vendas. Por outro lado, os camelôs assumiram compromissos com aluguéis semanais e condomínio mensal, que são compungidos a honrar, lucrando ou não, sob pena de despejo, salas lacradas, luzes desligadas.

É bem verdade que um grupo de comerciantes, pela localização mais próxima a Voluntários, está vendendo bem e pode se sustentar lá. A maioria, porém, faz feiras externas nas folgas, vende seus pertences, passa fome, atrasa aluguéis para, desesperadamente manter seu espaço, já que na rua está proibido.

Por outro lado, se fosse instalada uma gestão solidária, transparente e dedicada a encontrar soluções, a médio prazo, talvez este poderia tornar-se um empreendimento viável. Ao contrário, o Comitê Gestor previsto legalmente, envolvendo a Prefeitura, a empresa concessionária e os camelôs, não funciona, apesar das insistências destes! As receitas oriundas dos aluguéis dos espaços feitos a outros negócios não são públicas e sequer controladas pelo governo, assim como a comercialização ilegal das lojas, inclusive para pessoas que não são comerciantes populares e o acúmulo de lojas com um mesmo proprietário.

Diante do drama dos comerciantes populares, que resistem bravamente, e do desvio de finalidade da concessão, o governo é omisso. Age somente para notificar os despejos!
Na rua, perto do movimento, onde o camelô conseguia sobreviver e sustentar sua família, hoje estão carros estacionados. E muitos, inadvertidamente, comemoram a “humanização” do centro!

Sofia Cavedon – vereadora do PT em Porto Alegre

24 de fevereiro de 2010

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